Aspectos Culturais do Povo Ofaié
Antigamente os Ofaié viviam da caça, pesca e coleta de frutas
e mel. Construíam seus acampamentos à beira dos rios, ocupando uma grande área,
que ia do rio Sucuriú até as nascentes dos rios Vacaria e Ivinhema, no atual
estado do Mato Grosso do Sul.
Sempre moraram em pequenos grupos, o que facilitava os
deslocamentos. Suas casas eram construídas com troncos de árvores e cobertas
com folhas de palmeira ou sapé. Não havia paredes, mas o telhado quase chegava
ao chão. Configurando um círculo, as casas formavam no centro da aldeia um
pátio, onde ocorriam os rituais.
Na época do frio, dormiam em buracos cavados no chão,
forrados de capim e envoltos em peles de animais. No centro da casa também
acendiam uma fogueira.
Durante a seca, os rios ficavam com pouca água, o que
facilitava a pesca. Nesse período, os Ofaié mudavam-se para a beira dos rios.
Com a fartura de peixe, eles realizavam grandes festas.
Com a chegada da chuva, aparecem os frutos e os animais
atraídos por elas. Era portanto a época das caçadas. Nessa ocasião também se
colhia o mel. Como ficavam fora da aldeia por vários dias, eles construíam
abrigos provisórios para passar a noite.
Hoje essa atividade é apenas uma lembrança para os mais
antigos, pois as longas distâncias que antes percorriam, e os rios fartos de
peixe que freqüentavam – rios Verde, Paraná, Taquaruçu, Boa Esperança,
Ivinhema, Samambaia, entre tantos –, hoje correspondem a propriedades privadas.
Hoje a atividade se resume na coleta do mel, ainda disponível em colméias
criadas pelos próprios indígenas em feições modernas, com acompanhamento
técnico do órgão governamental e de alunos de Universidades que de quando em
vez visitam a aldeia e desenvolvem algum projeto experimental.
O trabalho na aldeia é repartido entre os homens e as
mulheres. Entre os homens, os jovens se encarregavam da caça e os demais
cortavam e traziam a lenha do mato, faziam as casas, os arcos e as flechas. As
mulheres, mesmo as meninas, realizam os trabalhos caseiros, colhem frutos e
mel. Também preparavam as fibras para as cordas dos arcos. Outra atividade
feminina é a preparação do cauim, que é uma bebida feita com milho fermentado e
muito utilizada nas festas.
Em relação à música, seus instrumentos preferidos eram a
flauta e um pequeno chocalho. O canto era formado por um coro de várias vozes,
em rituais que incluíam danças e consumo de cauim. Nos dias atuais, os Ofaié
não dedicam mais o seu tempo à música. As constantes mudanças de lugar a que
foram forçados a praticar, certamente, não lhes deu outra alternativa nem
motivos para comemorar. Uma gravação recolhida em 1981 junto a um grupo de 23
indígenas Ofaié que se encontrava na região do Tarumã (pertencente ao município
de Porto Murtinho, na região oeste do Estado) pelo historiador Antonio Jacob
Brand, confirma essa hipótese. O canto configura-se, sem dúvida, uma raridade:
em tom de lamento, o canto traduz e externa o que pode ser chamado de perdas e
o sentimento de dor vivido por um diminuto grupo vivendo distante de seu antigo
território (DUTRA, 1996: 50-59).
Uma gravação desse canto foi utilizada na abertura da
entrevista O último canto dos Ofaié, realizada pela jornalista Patrícia
Moribe e incluído no Compact Disk duplo Pantanal e Amazônia, produzido
pela Rádio Nederland, Holanda, em 2003. Também faz parte da abertura e
enceramento do vídeo experimental Ofaié, dirigido por Udovaldo Lacava e Geraldo
Anhaia Mello, para a Companhia Energética de São Paulo(CESP), em 1992.
A religião sempre se manifestou na reverência a um ser
criador. O “Paí”, uma espécie de sacerdote, é mencionado por alguns autores,
como Nimuendajú entre os Ofaié. A experiência pessoal do pesquisador Carlos
Alberto Dutra há 18 anos junto aos Ofaié revela que eles demonstram reverenciar
algumas vezes (raramente na presença de estranhos), o “Agachô“ (Deus criador).
Este pesquisador também presenciou, após o falecimento de uma indígena,
deitarem fogo sobre sua antiga casa e queimarem todos os seus pertences.
Fonte: https://pib.socioambiental.org/pt/Povo:Ofai%C3%A9
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